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sábado, 17 de setembro de 2011

Artigo: Eles estão em extinção, Por Daniel Lopes

Morar em uma cidade grande é como morar numa selva, a diferença é que na selva propriamente dita, os perigos são os animais selvagens e os peçonhentos, no resto os perigos são os mesmos.

De fome pode-se morrer na selva e na cidade grande, de frio pode-se morrer na selva e na cidade grande, e por aí vai. Nos filmes de guerra a gente vê e aprende que não se deve fazer barulho ao entrar no território do inimigo para não despertar a atenção, e nos documentários de vida selvagem, os predadores sempre escolhem os animais que chamam a atenção , seja pelo tamanho , pela dificuldade em andar, por estar mais longe da manada e coisas assim. No ambiente da cidade grande não é diferente.

Agora temos que viver como se estivéssemos sendo observados por predadores, tomando cuidado ao parar o carro, ao entrar e sair de casa, e a não andar sozinho em lugar ermo.

Velhos, deficientes, mulheres grávidas e crianças são alvo dos marginais das grandes cidades igualzinho aos documentários da vida selvagem na savana Africana. Entre tantas dificuldades do cotidiano desta capital do estado de Mato Grosso, como o costumeiro calor de 40 graus, um trânsito enrolado e tumultuado por ruas estreitas e esburacadas, fumaça de queimadas, para ficar só nestes, agora estamos convivendo com uma situação no mínimo inusitada e até hilária; o desaparecimento de caixas eletrônicos.

Fazer um banal saque de uns trocados em Cuiabá está virando uma odisséia. O pagador de impostos quando encontra um caixa eletrônico que esteja funcionando, depois de fazer todo o processo de segurança checando se não há algum suspeito por perto; se não tem algum motoqueiro observando; se não tem alguém falando ao celular por perto , etc. etc. , ele entra , checa se não tem um “chupacabra” instalado no caixa eletrônico; checa se ele não esta “temporariamente indisponível”; checa se tem as notas que permitam ele sacar o valor desejado, aí finalmente o cidadão pode pegar de volta o dinheiro confiado ao banco.

Isso se ele conseguir encontrar um , pois agora com a moda da bandidagem de explodi-los , encontrar caixa eletrônico é sorte como num jogo de pique esconde. Os postos de gasolina na sua maioria não querem mais ter um caixa eletrônico por perto. Os pequenos comércios, mercadinhos, conveniências, padarias que antes tinham os caixas como um atrativo para chamar clientes , agora correm dele como o diabo corre da cruz, tudo isso obviamente porque temem ver seu patrimônio voar pelos ares com bananas de dinamite, usadas pelos “terroristas” que assaltam esses caixas.

Quando um carro forte está abastecendo um caixa eletrônico as pessoas ao redor passam apressadas, tensas, como se estivessem numa guerra ou algo assim. O resultado disso tudo é que os caixas eletrônicos estão desaparecendo da praça e é comum o pagador de impostos ir a um local onde havia um caixa eletrônico e ele simplesmente não existe mais, pois o comerciante pediu que fosse retirado, ou ele foi pelos ares. Isso inclui as próprias agencias bancarias que também estão sob ataque dos bandidos terroristas.

Outra conseqüência direta dessa loucura é que aos finais de semana os poucos caixas eletrônicos que ainda existem não tem dinheiro para atender clientes, provavelmente por uma estratégia dos bancos, visando não atrair os bandidos. Sacar dinheiro vivo em caixas eletrônicos foi uma facilidade trazida pela evolução digital, mas nestes tempos de insegurança publica tornou-se uma armadilha para o cidadão e um risco a sua vida. Ir a agencia bancaria não é uma opção mais segura já que as agencias são um tradicional “ponto” para assaltantes, que criaram até uma nova modalidade de crime “Made in Brazil”; a famosa “Saidinha de banco”.

Com a criminalidade avançando os governantes, que também são conhecidos como “Os que vivem de dar explicações” , tentam transferir a responsabilidade para o pagador de impostos, sempre tumultuando mais ainda a sua vida. Eles nos “orientam” a tomar cuidado ao usar os caixas eletrônicos e bancos, criam leis, como a que proíbe o uso de celular dentro das agencias e coisas assim, mas resolver o problema da segurança publica não parece algo que eles queiram realmente fazer.

Quando for a uma cidade grande tire uma foto ao lado de um caixa eletrônico para recordação. Eles estão em extinção.


Daniel Lopes é colunista do Porto Notícias em Cuiabá

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