Candidato, palavra que vem do latim, “cândido, ou seja,
puro, sem pecado, desprovido de ganância e maldade que visa o bem comum e não
pessoal.”
Coitado dos candidatos na eleição, trabalharam tanto. Nem
vamos falar nos cafés vencidos, biscoitos duros, conversas fiadas, pedidos dos
eleitores, dinheiro gasto, campanha contra o tempo, outros concorrentes e tudo
mais.
Vamos falar da decepção com os eleitores de duas caras, que
mostram uma e depois aplicam a outra. Prometem votar em todo mundo e não votam
em ninguém. Às vezes nem títulos têm, ou são analfabetos, votam errados em
números que não existem.
Estamos focados em Candidatos a Vereador. Por que Candidato
a prefeito todo mundo ajuda.
Mas o Vereador fica abandonado. Jogado ao circo para ser
devorado pelos famintos leões do eleitorado.
Em cidade pequena é ainda pior, poucos são os que votam e
muitos os candidatos de todos os feitios.
Tem gente que entrou a primeira vez, achou que era só
candidatar-se e estaria na Câmara, cama ou na fama. Ledo engano, a dificuldade
é muito grande. Tem que ralar, gastar as havaianas, tênis ou sapato do bico
chato, porque do bico fino ninguém aguenta. As mulheres, não acostumadas,
sofreram várias cantadas e quebraram muitos saltos de sapatos. As rasteirinhas
deram uma verdadeira rasteira nelas.
Os apelidos não ajudaram em nada, pelo contrário,
atrapalharam. Hoje as urnas eletrônicas não querem saber de nome, sobrenome ou
apelido, só engolem números e vomitam resultados.
Muito eleitor sem saber em quem votar devido o grande número
de papéis na cidade.
Os bons, os maus e os que não tinham a menor ideia de nada,
estavam ali, sendo malhados pelo povo.
Santinhos, cartazes, eram todos massacrados, rabiscados,
amarrotados e jogados no lixo. Sem contar os bigodinhos, óculos, dentes de
vampiros, chapéus e outros nomes impublicáveis, eram acrescentados em tudo que
era distribuído ao eleitor.
Todos queriam um candidato perfeito. Não existe candidato
perfeito, todos têm os seus defeitos e qualidades.
Ninguém sabe por que a legislação eleitoral proibiu a
distribuição de brindes e showmícios, aquilo não comprava voto de ninguém. Além
do mais, passada as eleições, as camisas eram transformadas em pijamas, macias,
gostosa de vestir. A lixa de unha daria para comprar voto de alguém? Que coisa
mais ridícula! E o showmício, como era bom assistir, de graça, muito artista
famoso cantar as suas músicas de sucesso.
Era uma festa! Agora só papel, papel e mais papel. E nem
serve para rascunho, está escrito dos dois lados.
Tinha candidatos inexperientes que distribuíram páginas
inteiras nas ruas. Não adianta, o povo não lê. Quanto menos escrito melhor. O
que vale são as imagens. Jornal tem que ter muitas fotos e um texto pequeno. Coisa de internet, quanto menor
melhor.
Ah, ia esquecendo. E os pobres candidatos que largaram a rua
e enveredaram na internet. Ficaram só facebookando, tuitando, youtubando e
internetando. Pura bobagem, em cidade pequena não surti efeito nenhum. Também
curtir, sair seguindo alguém, vendo pequenos e horríveis vídeos caseiros ou
pesquisando site e blog de candidatos não quer dizer voto garantido.
Passaram dias e noites clicando, teclando, digitando,
escrevendo, falando, cansando… Gastaram um dicionário de palavras. Lavraram
textos, fizeram discursos de três linhas no Twitter. Publicaram fotos no Face,
usaram até o velho Orkut. Uns que nem conheciam nada de informática viviam
falando em iogurte. Uma bobagem só.
O Face só dava Book. O Tu só White. Ora bolas, palavras
novas, desconhecidas e o candidato velho, iletrado, cansado, sapato furado, não
podia perder tempo. Pegou o sábio sobrinho de 14 anos e entrou no estranho
mundo da teia, da net. Saiu decepcionado, o seu eleitorado minguado, em vez de
ser usado, usou e abusou do candidato muito bem orientado pelo sábio sabido
sobrinho…
Muitos ficaram pelo meio do caminho: E nem falamos nas
várias contas que ficaram por acertar.
Trecho adaptado do texto original de Manoel Amaral
Autor do livro “Osvandir e as Histórias Infantis”
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