"Num país onde a imprensa sofre de censura econômica e onde o dinheiro público é gasto impunemente para calar jornais e Tvs, quem tem liberdade para falar, deve pôr a boca no trombone" (Ademar Adams)
'Faço a gerrilha necessária com meus artigos', diz Ademar Adams
O jornalista Ademar Adams, 57 anos, gaúcho, é, antes de mais nada, um cidadão indignado e orienta que todos também sejam, para denunciar todo tipo de mazela que nos atinge. Num país onde a imprensa sofre censura econômica, diz ele, falar é um ato muito mais complexo e necessário. Para piorar para alguns e melhorar para outros, Adams afirma não ter medo. Por causa disso, há quem reze para não aparecer nos artigos dele. Servidor concursado do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em Cuiabá, onde mora há duas décadas, casado há 25 anos, pai de dois filhos adolescentes, formou-se jornalista e advogado após os 40 anos. Ademar é ainda um fanático por futebol. Leia a entrevista
Por Keka Werneck
Onde você nasceu?
Santo Ângelo -RS.
Veio para cá quando e com quem e por que?
Saí do Rio Grande com 16 anos, morei quase 10 no oeste do Paraná. Em 1978 tive um apagão na minha vida e resolvi mudar de ares, e vim de mala e cuia para Mato Grosso. Fui trabalhar numa colonização na beira do rio Juruena onde hoje é Cotriguaçu. Fiquei lá três anos. Depois morei mais sete anos em Porto dos Gaúchos e estou em Cuiabá desde 1989.
Você é amado e odiado pela sua "boca do inferno", como a do escrito barroco Gregório de Matos. Falar incomoda as pessoas. Às vezes, você também é duramente criticado. Isso te incomoda? Isso é papel de jornalista?
Num país onde a imprensa sofre de censura econômica e onde o dinheiro público é gasto impunemente para calar jornais e Tvs, quem tem liberdade para falar, deve pôr a boca no trombone. O que faço vai além do papel do jornalista. Em mim, o cidadão fala mais alto. Eu sou um cidadão indignado e acho que faço um tipo de guerrilha necessária com os meus artigos.
As críticas eu recebo sem problemas. A justas me ajudam a melhorar, as injustas eu cuspo fora como um caroço qualquer.
Quando você se percebeu jornalista?
Com 15 anos eu fiz um jornalzinho no colégio interno e senti que gostava daquilo. Em Ariel, lá no Juruena, éramos 12 almas e eu fazia um pasquim, em Porto dos Gaúchos, o "Scoolacho" teve 49 edições. Fazer a academia de Jornalismo foi um sonho realizado.
Então você defende a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo?
Nada mais necessário. Esse negócio de qualquer picareta se dizer jornalista é uma aberração. Gilmar Mendes fez o jogo da grande mídia que não quer gente séria, formada, preparada, consciente. A Globo, o Estadão, a Folha, querem marionetes que fazem o jogo comercial das empresas.
Como você analisa a atuação da Fenaj?
Tímida.
O Brasil é uma nação?
É uma federação de nações, cuja única coisa que a une é o futebol da seleção.
Todo o povo brasileiro é tratado com igualdade?
Não, jamais. Ladrão de galinha o guarda da esquina prende e a justiça condena. Gilmar "Dantas" que soltou o Daniel "Mendes" é o exemplo de que os barões tem tratamento, desigual. Todos são desiguais perante a fortuna.
Você assiste jogos de futebol?
Infelizmente sou louco por futebol. Acho até que é um vício. Joguei até os 55 anos e só parei por problemas de coluna.
O que acha da Copa ser aqui?
A Copa em Cuiabá é para os mesmos corruptos de sempre faturarem. A Agecopa é uma associação para queimar o dinheiro do erário festejadamente.
Com o que você não gasta seu dinheiro de jeito nenhum?
Com modismos. Nem para comprar revistas como Caras e Veja.
Sendo esse crítico indignado, citando sempre nomes de poder e de influência, isso não te faz ter medo de retaliações?
Eu sigo o conselho de Nietzsche: viver perigosamente. Na verdade não faço nada errado e não ameaço ninguém. Todo mundo me recomenda cuidado com certos bandidos da política e eu também não dou bobeira por aí...
A corrupção é cultural?
Só é cultural. Mas é preciso combate-la sem tréguas!
Quem está certo nessa Operação Jurupari? O juiz Julier ou o grupo que quer afastá-lo?
Eu penso que que nesta questão da Operação Jurupari descobrimos outra formação de quadrilha: a dos 15 políticos (que representaram contra Julier), a maioria responde a processos e outros tantos suspeitos e alguns como Maggi, traficante de influência. Eles se uniram para cometer o crime odioso de afastar um juiz corajoso que tem feito a diferença em Mato Grosso.
Você acredita em Deus?
Eu acredito em Deus e na vida infinita.
FONTE BLOG DO SINDJOR