Quem não conhece Blairo Maggi e aquela velha história de que ele quer abandonar a política para cuidar das suas empresas, até acredita no que ele disse à Folha de São Paulo esta semana em reportagem repercutida a rodo por aqui.
Mas vamos aos fatos:
Ano 2003: Blairo recém-eleito governador de Mato Grosso, com a proposta de que iria baixar os impostos e pagar uma promessa que fez quando a uma filha pequena ficou doente, retribuindo o quanto pudesse ao povo sofrido.
Mas tão logo assumiu, já ficou abismado com tanta pressão por cargos, enfrentando a cúpula do (então PFL), ávida por espaços no governo, tendo ainda que acomodar no palácio a patota faminta do Roberto França (então PPS) e também a galera sedenta de Pedro Henry (então PTB), além de uma dezena de partidecos famigerados que infestavam como formiga no seu encalço.
Resultado, Blairo diz que não estava gostando daquilo e usa a imprensa para revelar que este seria seu primeiro e último mandato. Depois iria cuidar de suas empreas e pronto, acabou. No mínimo, encontrou uma maneira honrosa de afastar Jaime e ainda ficar bem na opinião pública.
Ano 2006: Pressionado por correligionários e amigos dos pampas que loteavam o Paiaguás e nunca tinham sentido tanto poder nas mãos, Blairo resolve se candidatar a um segundo mandato.
Encostado contra a parede se não cumpriria sua promessa de que iria mesmo abandonar a política e voltar para suas empresas, Blairo diz que: "Estamos fazendo muito, o estado vai bem, e se o estado vai bem, nossas empresas também vão". A desculpa acabou não colando, haja visto que somente suas empresas estavam indo bem, em função dos asfaltos que construiu ao longo do estado para escoar a produção. Então ele saca novamente a história da filha e parte para o lado humano, de que tinha ajudado muitas pessoas e queria continuar ajudando. Cita então o caso das casas que construiu. Resultado: foi reeleito.
Ano 2009: Sua esposa faz uma cirurgia de redução de estômago que quase acaba em tragédia. Ele revê seu papel no mundo e convoca a imprensa novamente para dizer que não se candidatará ao senado e tão logo encerre seu seugundo mandato no governo iria retornar a suas empresas.
Mas eis que em 2010 ele está lá, todo sorridente, candidato ao senado, pedindo votos novamente e se tornando o maior sulfragado da história mato-grossense.
Março de 2011: Já senador, Blairo nem esquenta a cadeira para a qual foi eleito por 8 anos e já se diz desanimado, que irá largar a política e voltar para suas empreas. A mesma lenga-lenga de todos os anos anteriores.
Reflexão:
Este poderia ser um enredo maquiavélico de auto-piedade. E quem inventou que essa história de dizer que não vai mais para acabar indo depois, e com força, certamente é um gênio, pois funciona e funciona muito bem. Pelo menos no caso de Blairo Maggi.
Com essa tática, Blairo Maggi já conseguiu em 8 anos nada menos que 2.776.986 votos do povo matogrossense, contando suas 3 eleições. Nenhum político neste estado, por longa que fosse sua carreira, atingiu esta marca e, talvez, demore pelo menos 20 anos para alguém alcançar. São quase 3 milhões de votos, num universo populacional de 2 milhões de pessoas.
Mas Blairo não agradece esses votos de imediato, em forma de trabalho. Sua tática é dizer-se, desanimado, triste no primeiro momento. Mas fica lá, todo o mandato, cuidando de suas empresas, das dívidas agrícolas que os produtores tem com suas empreas, dos espaços de poder que alcançou e não quer perder, e no final, quando todos descobrem que seu patrimônio evoluiu mais do que o de todos os outros mortais comuns, ele vai lá agradecer, no período eleitoral, pedindo mais votos, para continuar se enriquecendo... no poder.
Não posso considerar que essa seja uma tática maquiavélicamente moderna de se manter no topo da urna, do poder e da fortuna. Ainda não há estudo sobre este fenômeno, mas que ele acontece, acontece.
E agora está se repetindo:
Ano 2011: Blairo dá declaração à imprensa nacional de que está desanimado e voltará para suas empreas. O problema é que faltam 7,9 longos anos de mandato, e com uma eleição de governador no meio, em 2014.
Para um homem que não vive a nossa realidade e só consegue pensar com a cabeça no futuro, 4, 5, 10, 20 anos depois, nós, os pobres mortais, ficamos encasquetados, meio sem entender. A imprensa nacional caiu como um patinho, da mesma forma que nós, os mato-grossenses, caímos inúmeras vezes.
Para tudo isso, só posso utilizar uma expressão popular muito antiga, para contrapor o pensamento meticuloso daqueles que usam nossa crença para se posicionar no cenário político: "Cachorro que late, não morde".
Se Blairo quisesse parar mesmo, ele pararia, até porque não precisa disso pra viver, embora precise disso para ajudar a se enriquecer. Aliás, o cenário político está recheado daqueles empresários que, almejando o poder, retiram fortunas do bolso para acessá-lo. Blairo Maggi é só mais um caso clássico.
Sua apatia pode ser por outros motivos, não pelo cansaço com o poder. Ele pode até enganar a imprensa nacional com essa lenga-lenga, mas o povo mato-grossense já conhece essa história.
E conhece bem. Por suas evasivas, sabemos que ainda vai demorar muito tempo para Blairo largar o osso.
Pode acreditar!
Da Coluna do Muvuca
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