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terça-feira, 1 de março de 2011

Na minha época, antes do ECA, não era proibido por lei trabalhar para ganhar algum para “tomar uma coca” e dar uma ajudazinha nas despesas de casa

Antes de 1990 quando o Governo do aventureiro Collor assinou o decreto de morte e envolvimento com as drogas para os adolescentes, com o chamado ECA - e essas iniciais combinam mesmo - os adolescentes podiam suar a camisa em trabalhos como entregar leite; empacotar compras; em olarias, oficinas de moto ou de bicicletas; no sítio da família, lanchonetes e até em algum “Randevú” mais afastado da cidade.

Não era proibido por lei ganhar algum para “tomar uma coca” e dar uma ajudazinha nas despesas de casa; isso claro para as famílias mais humildes, afinal filhinho de papai sempre existiu e sempre existirá.

Amigos disputavam coisas saudáveis como corrida de bicicleta; quem conseguia pegar a galinha mais gorda na Sexta Feira Santa, ou ainda dar uma espiada indiscreta naquela solteirona dos nosso sonhos e que morava logo ali.

Parecia haver uma magia quando se ia à escola, e com raras exceções havia vontade de estudar; de fazer a melhor redação da sala, em ser escolhido pelo professor como o “líder” da turma, ou ainda fazer a palavra final naquele Jogral. Não era considerado “resquício da ditadura” formar fila para cantar o Hino Nacional e depois adentrar as salas de aula em ordem e silencio.

Alguns destes amigos lá pela sétima série ficavam afoitos, pois no ano seguinte iria “virar adulto” – título dado a aqueles que estudavam à noite – já que oitava série só existia no período noturno. Lembro-me que havia muita encenação para as possíveis conquistas amorosas e então novas metas com o dinheirinho ganho com pequenos trabalhos, afinal era preciso ter uma grana para gastar com aquela jovenzinha que ansiosamente esperávamos ver no bailinho de férias do colégio.

Não havia vergonha em ser simples e nem de usar a mesma calça aos Domingos e principalmente havia orgulho em trabalhar seja no que fosse, já que a maioria dos honrados pais ensinava aos filhos e filhas que nenhum trabalho era indigno ou humilhante. Muitos de nossa geração trabalhavam e estudavam; às vezes em trabalhos estafantes, e muitos deles se aprumaram na vida, outros não, normalmente como ocorre em qualquer canto deste mundo.

Não me lembro de ouvir alguém dizer que ter trabalhado na adolescência o prejudicou e por isso ele é infeliz. Naquele tempo estudar e trabalhar era algo normal. Reprovar de ano não era considerado uma aberração como alguns “educadores” teimam em pregar nos dias de hoje.

Reprovar de ano, sob muitos aspectos era considerado saudável, pois reprovar era sentir-se deixado para; e vendo seus amigos na série seguinte, muitos tratavam de não mais reprovar evitando assim tamanha vergonha para si e para seus pais. Na “educação” dos dias de hoje, ensina-se pouco e nada de; por exemplo, respeitar regras, os mais velhos e etc. Virou uma peste crônica o tal ciclo onde ninguém mais reprova, ainda que mal e porcamente saiba o mínimo do mínimo necessário.

Trabalhar sempre fez e sempre fará bem a qualquer ser humano, desde a sua entrada na adolescência até a sua aposentadoria ou até mais além. Valores andaram mudando rapidamente e hoje é comum vermos jovens de 13 , 14 , ou 15 anos que já pararam seus estudos ali pela quinta série ( ou equivalente , pois agora não tem mais série) , e como não podem trabalhar ( isso agora é crime) , ficam num limbo , onde nada lhes é favorável .

Trabalhar e estudar parece agora uma doença contagiosa, onde o ECA enterra no submundo do crime todos os dias uma penca de jovens. Criaram uma lei, como diz Caetano Veloso “linda”; mas esqueceram que o Brasil ainda é um país com relativo atraso e subdesenvolvimento; em resumo, criaram um estatuto próprio para aplicar na Finlândia - país nórdico que tem um dos melhores indicadores sociais do Planeta - mas que, ao menos agora é impraticável no Brasil e esta enterrando uma geração inteira num buraco bem fundo.

Num Domingo destes fui almoçar com um casal de amigos, onde um deles é professor e ele se declara triste e desanimado com a profissão, pois já não acredita no que faz. Mostraram-me consternado algumas provas de seus alunos e juntos constatamos que num total de 21 alunos, 17 deles sequer escreveram o nome do colégio com a grafia correta. 17 alunos de oitava série , que não sabem ou não estão nem aí sequer para o nome de seu estabelecimento de ensino.

Vez por outra vou a uma escola buscar duas sobrinhas e fico horrorizado com o comportamento de pré-adolescentes, que ainda no portão do colégio, gritam, chutam, dizem palavrões em alto e bom som - palavrões que fariam adultos despudorados corar de vergonha – trajando roupas curtíssimas, apropriadas para bailes funk, mas nunca para uma sala de aula. Tudo isto sob o olhar indulgente de alguns pais e professores que se misturam naquele caos que é à saída de um colégio nos dias de hoje. Vejo alunos com bonés recheados de dizeres impróprios, com um caderno tão fino em uma das mãos, que olhando bem parece que aquele aluno estuda uma única matéria, e que 10 folhas seriam suficientes para um ano letivo inteiro.

A combinação perversa de leis que impedem o adolescente de trabalhar, com o excesso de direitos e quase nenhum dever, esta criando uma geração de tolos, analfabetos funcionais, despreparados que no auge de seu vigor físico, vão apenas vender sua força bruta por um misero salário mínimo, ou talvez nem isso. O respeito pelas regras não precisa ser seguido, pois nada lhes acontece, o respeito pela família inexiste, pois não há mais regras e muitos deles serão pais de filhos que um dia poderão matar os filhos de outros, porque aprenderam com o ECA que são “dimenó”.

Sinceramente penso que é uma perda de tempo e de recursos públicos manter escolas publicas deste naipe, onde adolescentes fingem que aprendem matérias de química, física, biologia entre outras, e a maioria deles sai destas escolas sem saber 10% destas citadas matérias da grade escolar. O Colégio nos dias de hoje para muitos é um ponto de encontro de amigos; um local para socializar, encontrar a namoradinha, ou mostrar que é o “fodão” da turma e raramente obedecer as regras ali estabelecidas.

Muitos podem achar que isso é um descalabro, mas já tem muita gente por aí com o pensamento claro, que é melhor o governo alfabetizar o jovem; ou seja, ensiná-lo a ler e escrever, fazer operações aritméticas básicas, declarando-o “alfabetizado” e se ele decidir realmente estudar, o fará por vontade própria e não obrigado. Esta teoria deixaria dentro dos colégios só os realmente interessados em vencer através do conhecimento, acabando com o inchaço colegial, onde um batalhão de alunos se matricula, mas não passa da quinta série, não respeita o professor, desconhece as regras de convívio social harmônico e muitas vezes levam arma de fogo e drogas ao colégio, pondo em risco os que ali estão para ganhar conhecimento.

É claro que em todas as situações há as exceções, mas sinceramente são bem poucas. Alguns podem argumentar que isto só ocorre em escolas publicas, mas é um ledo engano; escolas particulares e caras são também um ajuntamento de adolescentes que estão sem rumo e alguns até saem a noite para espancar trabalhadoras nos pontos de ônibus, queimar mendigos, ou agredir homossexuais, simplesmente porque sabem - isso eles sabem - que o ECA lhes protege e seus pais já não podem por lei nem lhe dar umas palmadas. A sociedade precisa rever seus valores, onde dignidade, respeito, amor familiar e fraternidade devem sim ser a primeira base de um pré- adolescente e adolescente.

Se o jovem é de uma família desestruturada o estado tem de ampará-lo rápida e eficazmente e o legislador rever o ECA que dá a quem ainda não tem personalidade formada, um excesso de direitos que já está provado não produzir nada, a não ser desgraça.

O abismo está logo ali.

Daniel Lopes reside em Cuiabá e escreve para o Porto Notícias

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