Gente que acessa o Blog:

segunda-feira, 2 de maio de 2011

ARTIGO: Ele estava certo, Por Daniel Lopes

Daniel Lopes diz que Luiz Carlos Prates estava certo quando disse que "Hoje qualquer miserável pode ter um carro"

Em Novembro do ano passado, o comentarista da Rede Globo no estado de Santa Catarina, Luiz Carlos Prates, foi noticia nacional por ter feito um comentário considerado preconceituoso dizendo “Hoje qualquer miserável tem um carro”.

A frase do apresentador, tirada de um contexto, causou a ira de alguns que se faziam de bobo, e levou ao delírio os pseudo-defensores “dos pobres e oprimidos”, num claro aproveitamento da situação para dizerem que “Hoje os pobres tem direito a ter um carro”. Quem tem um mínimo de inteligência ao assistir na integra a fala do comentarista, verá que ele tratou de um contexto, mas preferiram distorcer tudo para tirarem proveito político da situação. Foi tão grande o descaramento que até a organização empresarial de certo bispo, que madruga para pedir mais cedo, estampou no seu folhetim a chamada “O ódio aos pobres” apenas porque - movido sabe-se lá com quais interesses - apoiou a Presidente eleita.

Talvez a indignação do comentarista levou-o a exacerbar-se, mas absolutamente tudo o que ele disse, de bom e de ruim foi a mais absoluta verdade. A nova classe C que aproveitando do bom momento econômico Brasileiro, entrou em delírio e hoje as ruas estão entupidas de carros que serão pagos em até 72 meses (seis anos), mesmo que a juros extorsivos e pagando dois carros e meio ao fim do engodo.

Quando o individuo acaba de pagar o carro (se conseguir) ele não vale ¼ do que custou, mas isso não importa né? O importante para os que condenaram o comentarista é que o “povão tá motorizado”, e os bancos e financeiras estão tendo lucros fabulosos. O endividamento da população é astronômico e só não veremos esses “defensores do povão” dizerem que essa ciranda pode quebrar o país como aconteceu nos Estados Unidos com a facilidade em financiar casas. Estou aqui sim fazendo uma defesa do comentarista, que mesmo de forma dura disse apenas a verdade. Tenho pelo menos uma meia dúzia de conhecidos que moram em casas semi acabadas, com no máximo dois quartos e seus filhos de sexos diferentes dormem juntos num deles; que tem cáries enormes nos dentes; que não tem cem reais no banco para uma emergência, mas possuem um carro semi-novo na garagem e um carnê que mais parece uma bíblia com prestações até a Olimpíada de 2016.

Virou uma doença social, ter um carro novo ou semi-novo a qualquer custo, muitas vezes para ir ao trabalho e ficar o dia todo parado, ou a semana toda, ainda que sua família viva em condições precárias. O cidadão iludido esquece que seu vigor físico vai-se com os anos e provavelmente na sua velhice irá passar apuros ou depender de outros, mas o governo e a sociedade jamais o incentiva a, por exemplo, adquirir um plano de aposentadoria privada, ou ter um fundo em poupança para emergências ou mesmo pagar seu carro a vista, sem endividarem-se anos a fio por um bem com altíssima depreciação que é um carro.

O que vemos é um enorme contingente de trabalhadores com renda em torno de três salários mínimos comprando celulares que custam metade do que ganham num mês, dirigindo carros com a luz da reserva acesa o tempo todo, e causando uma espiral inflacionaria maligna, mas que são os “queridinhos” da vez e até são motivo de disputa pelos segmentos políticos. As ruas das cidades grandes como Cuiabá, estão entupidas de carros e em determinados horários o caos se instala, mas nossos governantes em todas as esferas (municipal, estadual e federal), preferem ignorar o transporte público de qualidade, promovendo o credito fácil para compra de carros que irão transportar uma ou duas pessoas.

Nos horários de pico, as grandes cidades são o retrato do caos; pessoas com olhar cansado, penduradas nos apoios dos ônibus lotados, andando lentamente no transito congestionado, motoristas tensos e solitários em seus carros andando a 10 km/h são o resultado de algo que não tem futuro. Nossas grandes cidades precisam é de mobilidade urbana de massa, transporte publico de qualidade e com fluidez, para que o carro que transporta muitas vezes um só elemento, seja desprivilegiado e usado apenas nos finais de semana ou nos passeios com a família, só assim poderemos ter melhor qualidade de vida nas grandes cidades.

O modelo atual é insustentável e as cidades não suportarão que cada cidadão vá com seu carro ao trabalho, geralmente sozinho. Isso pode até ser indicador de prosperidade econômica, mas é visível a deterioração da qualidade de vida de quem habita as grandes cidades. O pensamento de Luiz Carlos Prates está certo e os desinformados que se condenam a entregar seu suor aos banqueiros em infindáveis prestações, deveriam sim ler livros, serem orientados a poupar e planejar sua vida financeira, mas nossa sociedade consumista apoiada pelos governantes prefere iludi-los com credito fácil e extorsivo deteriorando seu futuro em favor de um presente efêmero como na fábula da cigarra e da formiga.

Luiz Carlos Prates pode ter dito com amargas palavras, mas disse apenas a verdade.

Daniel Lopes reside em Cuiabá

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário está sujeito a aprovação.
Obrigado por comentar no Blog do Roseno!!