Por Antonio Cavalcante Filho e Vilson Nery *
De uma coisa nós de Mato Grosso podemos nos vangloriar. Na ‘Copa da Corrupção’ nossos políticos se superam, e sempre inovam no modo de operar os esquemas. Veja só. A Corrupção acaba de conhecer o Chorão e o Pidão. Não, não se trata de um desconhecido convocado para a seleção (de futebol) do técnico Dunga. O Chorão não é o vocalista (Alexandre Magno) da banda Charlie Brown Junior. Se você não conhecer (estes músicos), despreocupe-se, isso não interessa ao contexto, é só pra chamar a atenção da “molecada” que votará pela primeira vez e conhecerá os personagens (Chorão, Pidão e Corrupção) na fotografia digital da urna eletrônica.
Segundo o professor José Antonio Martins, filósofo da USP, a palavra corrupção “deriva do termo latino corruptio/onis, donde vem sua acepção primeira. Para o homem latino dos séculos I e II, o termo corruptionis tinha sua significação a partir da conjunção de outros termos: cum e rumpo (do verbo romper), significando romper totalmente, quebrar o todo, quebrar completamente”.
E cá prá nós, Corrupção é ‘meter a mão na grana do povão’. Ou quebrar o Estado, dá quase na mesma.
Olha só o que (nossos políticos) fizeram. Primeiro esse fiasco do concurso público para dez mil vagas, em que a Unemat foi posta ‘numa fria’, por liberalidade do seu reitor, também político. O concurso começou em julho do ano passado (2009) e até hoje ninguém sabe os nomes dos concursandos que passaram e nem dos reprovados. Há todo tipo de especulação. A principal delas: o concurso foi usado pare efetivar os amigos do rei em cargo público, e só isso explicaria a demora (de dez meses) entre a publicação do edital e a divulgação dos aprovados.
E o Mato Grosso 70% equipado (sim, porque 30% ficou de gorjeta)? Os 26 milhões “pagos em excesso” representam um desvio diário de 10 mil reais, ou o mesmo que três casinhas populares construídas com dinheiro do Fethab. E ainda tem o lance dos ônibus para deficientes, dos carros de polícia, a oficina única, o escândalo da assembléia, o caso das marmitas, etc. É sangria que não se acaba, uma torneira por onde pinga (ou jorra) dinheiro.
Pois bem. No caso dos caminhões e das patrolas, pilhado com dinheiro sujo, passamos a conhecer o personagem Chorão, amigo da Corrupção. Disse que não foi ele, que tem mãos limpas, que vai à igreja todo domingo e que é leitor de Nicolau Maquiavel, o príncipe de Napoles. Em reservado, Chorão esbravejou: quero cheque especial, cartão de crédito sem limites e um depósito nas Bahamas.
Já nosso outro personagem, Pidão (Pidão é aquele que sempre está pedindo alguma coisa para você, também conhecido como Chato, Mala) foi bem mais esperto, dizendo desconhecer Corrupção, que nunca o viu e tal. Se antes ele pedia dinheiro para as campanhas eleitorais, passou a pedir a empresários fornecedores que devolvessem o “excesso de pagamento”. Sim, meus amigos, eis aí outra inovação de nossos criativos políticos. Mas justiça seja feita, é invenção do Pidão: em Mato Grosso, nas obras públicas não há sobrepreço ou superfaturamento, há “excesso de pagamento”. Quanta criatividade! Mas o certo é que Pidão não foi bem sucedido, alguém ‘abriu o bico’ e os fatos vieram à tona.
E agora, como fica? Bom, Corrupção pode ser afastado (a) da vida pública por oito anos, graças à Lei Ficha Limpa, mas isto só se assim desejar o eleitor. Chorão ‘pediu pra sair’ (foi ordem de Pidão, tipo Capitão Nascimento, lembra?) e garantiu silêncio. Mas Pidão, esse resiste, não sai de jeito nenhum. Dizem que Pidão vem desde os tempos do falecido Bemat colecionando histórias, documentos, álibis, documentos e amizades (e documentos).
O epílogo? Infelizmente a história não tem fim, porque enquanto um ladrão de verbas públicas sai de cena, outros tantos assumem o seu lugar. É como enxugar gelo. Se o eleitor não desejar, nem o Ficha Limpa dá jeito.
*Antonio Cavalcante Filho e Vilson Nery são militantes do MCCE -Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral – Comitê de Mato Grosso.