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domingo, 10 de outubro de 2010

Estudo revela no Brasil as pessoas transam mais, com maior número de parceiros. Nosso país lidera, também, em matéria de infidelidade conjugal

Estudo revela que o Brasil é o país em que homens e mulheres têm o maior número de parceiros sexuais da América Latina

RIO - O Brasil das praias, do carnaval, das roupas sumárias, das mulheres liberadas, dos homens galanteadores e destino preferido dos homossexuais cumpre a risca o estereótipo. Pesquisa sobre a sexualidade dos latino-americanos, realizada em 11 países da região, confirma algumas das mais propaladas características dos latinos em geral e dos brasileiros em particular no que diz respeito ao sexo e aos relacionamentos amorosos.
Você já fez sexo pela internet?

Você alguma vez já traiu a sua parceira ou o seu parceiro?

Realizada pelo instituto Tendências Digitales, sob encomenda do Grupo Diários America (GDA), integrado pelo GLOBO, com 13.349 pessoas via internet, a pesquisa revelou que o Brasil é o país em que homens e mulheres têm o maior número de parceiros sexuais ao longo da vida, uma média de 12, contra 10 na América Latina em geral. O país registra também o maior percentual de pessoas da região que associa relação sexual a prazer, 35,6%. Nos demais países, a média é de 27,6%. E a proporção se mantém mesmo quando o recorte é feito por gênero. As mulheres e os homens associam sexo a amor, sim, mas, em quase igual medida, também ao prazer.

" O brasileiro se permite assumir que tem mais parceiros e faz isso com mais naturalidade do que em outros países "
- Acho que é uma coisa cultural nossa mesmo (a maior liberalidade em relação ao sexo). Apesar da influência católica, ela aqui adquiriu outras vias - afirma o especialista em sexualidade Alexandre Sadeeh, do Hospital das Clínicas da USP. - O brasileiro se permite assumir que tem mais parceiros e faz isso com mais naturalidade do que em outros países. A sexualidade está presente no nosso dia a dia, nas mulheres de biquíni, nos olhares dos homens. As danças, as roupas, as propagandas sempre têm um teor erótico embutido.

O país registra também o maior percentual de homossexuais ou bissexuais: 16,6% se declaram assim - o maior percentual da região, cuja média é de 13,3%. Quando a pergunta é sobre o sexo do atual parceiro, o percentual sobe ainda mais. Entre os homens, 21,1% dizem estar fazendo sexo com outro homem. As mulheres que estão mantendo relações com outras mulheres perfazem um percentual bem menor, 5,4%, mas, ainda assim, acima da média regional, de 4,9%.

- No Brasil, se assumir homossexual é menos complexo do que em outros países da América Latina, onde a tradição machista parece ser mais intensa - sustenta a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP.
Vibradores: as brasileiras são as que mais usam

Apesar, claro, de o machismo ainda ser muito presente no Brasil, em relação aos demais países da América Latina, o país é um dos mais liberais para as mulheres. Vale lembrar que, como o levantamento foi feito pela internet, o nível socioeconômico dos participantes é mais elevado. A pesquisa mostra que as brasileiras são as que mais usam vibradores para se masturbar (13,5%) e as que mais chegam ao orgasmo pelo sexo oral (33,9%). Embora muitas ainda finjam gozar (mais da metade dizem que de vez em quando fazem isso), uma parcela considerável diz ter orgasmos múltiplos regularmente (19,3%) e às vezes (54,3%).

" Por aqui, o corpo é muito cultuado, há muita sensualidade, e tudo isso é um agente facilitador "
- Os brasileiros são mais livres para se aproximar, conquistar. O latino, em geral, é machista, a mulher é mais submissa, a questão do pecado é muito forte - diz a sexóloga Carla Cecarello, presidente da Associação Brasileira de Sexualidade. - Por aqui, o corpo é muito cultuado, há muita sensualidade, e tudo isso é um agente facilitador a estimular a troca de parceiras, há uma procura por experimentar mais nesse sentido. E as mulheres estão se permitindo mais a busca do prazer não necessariamente ligado ao amor.

Na análise dos especialistas, a posição sexual preferida pelos latinos - e, particularmente, pelos brasileiros - revela ainda o caráter machista do sexo na região. Nos onze países da região, a posição preferida (24,1%) é aquela em que o casal fica de joelhos e o homem penetra a mulher por trás. No Brasil, esta é a posição ideal para 29,1% da população. Em segundo lugar na preferência nacional, com 22,7%, vem o tradicional papai-mamãe.

- O padrão aqui ainda é bem machista: ou o homem vem por trás ou está por cima - avalia Sadeeh. - Por isso, a proporção em que a mulher fica por cima é menor.

Carla Cecarello concorda com o colega. Ela afirma que as posições sexuais favoritas são aquelas em que o homem tem todo o controle da relação. Mas acrescenta ainda uma explicação mais prosaica:

- O brasileiro é fissurado por bunda. Nessa posição, ele tem o controle total dos movimentos, é ele que está segurando a parceira, e ainda tem todo aquele visual, que é um grande estimulante.


Pesquisa revela que brasileiros são campeões de infidelidade na América Latina.
RIO - Nem tudo são flores no país da liberdade sexual. Embora os brasileiros se revelem muito liberais na cama quando comparados com boa parte de seus vizinhos latino-americanos, eles enfrentam alguns problemas sérios em seus relacionamentos. Pesquisa sobre a sexualidade na América Latina, feita pelo instituto Tendências Digitales em 11 países da região a pedido do GDA, mostra que o Brasil apresenta os maiores índices de infidelidade e disfunções sexuais.

Quem olha para os casos de infidelidade declarados pelos brasileiros corre o risco de perder o sono. Entre os homens, o percentual daqueles que dizem já ter traído pelo menos uma vez na vida chega a 70,6%. Entre as mulheres, o número é 56,4% - o maior da região. O levantamento mostra que apenas 36,3% dos brasileiros nunca traíram um parceiro. Só a Colômbia consegue ter um número ainda menor de fiéis convictos: 33,6%. (Leia também: Brasil é o país em que homens e mulheres têm o maior número de parceiros sexuais da América Latina)
(Você alguma vez já traiu a sua parceira ou o seu parceiro?)

(Você já fez sexo pela internet?)


" É mais fácil trair no Brasil e na América Latina, onde se lida com a questão de um jeito diferente "- É mais fácil trair no Brasil e na América Latina, onde se lida com a questão de um jeito diferente, de forma não tão condenável, especialmente no caso dos homens - afirma a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP. - É um traço cultural do latino em geral, presente também nos franceses, espanhóis e italianos. Se incorpora ao casamento a ideia de que é complicado viver anos com uma pessoa sem ter ao menos uma experiência extraconjugal.
Um sintoma de problemas graves na relação

O assunto é tema de um encontro no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, em Botafogo, nos próximos dias 22 e 23, que reunirá especialistas da área, entre eles a terapeuta de família Mônica Lobo. Segundo ela, os homens em geral seguem o modelo antigo e ainda fazem distinção entre relações afetivas e sexuais. Mas a percepção cresce também entre as mulheres, como mostra a pesquisa.

- Isso está ocorrendo porque as mulheres estão ocupando um lugar diferenciado no mercado de trabalho, estão mais independentes, sabem o que querem, não aceitam qualquer coisa em termos de sexo e se sentem no direito de ir buscar isso em outros relacionamentos - sustenta a sexóloga Carla Cecarello, presidente da Associação Brasileira de Sexualidade.

Mas a infidelidade, masculina ou feminina, sobretudo em percentuais tão altos, segundo os especialistas, é um sintoma dos mais gritantes de que os casais não estão sabendo enfrentar seus problemas e se relacionar de forma mais saudável.

- O que as pessoas muitas vezes têm dificuldade de ver é que, em primeiro lugar, a traição está ligada a uma disfunção da relação, em que cada um dos cônjuges têm tem uma parcela igual de responsabilidade - sustenta a terapeuta Mônica Lobo.

Alexandre Sadeeh, especialista em sexualidade do Hospital das Clínicas da USP, concorda com a colega:

- Falta intimidade entre os casais - diz. - A paixão, o encantamento, o amor do início do casamento são destruídos pela rotina. As pessoas pensam, 'já conheço, já sei, não preciso me dedicar tanto'. Vão mudando e isso não é percebido pelo outro. E vão se distanciando.
Pesquisa revela que brasileiros são campeões em disfunção sexual. Foto: divulgação

A pesquisa mostra que falta mesmo diálogo aos casais, sobretudo no que diz respeito às preferências sexuais. Segundo o levantamento, menos da metade das pessoas dizem falar sempre com o parceiro sobre o que mais gostam na cama. Metade (49,8%) diz que só às vezes fala sobre o assunto e 6,4% afirmam que isso nunca acontece. No Brasil, 42% dizem conversar sempre.

- Acho um percentual baixo num país que fala tanto de sexo - diz Carmita Abdo. - Mostra que 60% não falam, não têm intimidade verbal, não comunicam suas preferências, fantasias, gostos.
Com o distanciamento, o sexo se torna cada vez mais raro

- Muitos casais, a medida que os filhos chegam, se voltam muito para a função parental e deixam de lado a conjugal - constata Mônica.

Para os especialistas, esses problemas estão também na raiz das disfunções sexuais. O levantamento revela que, na América Latina, o brasileiro é quem apresenta maior dificuldade para ter uma ereção (29,8%) e para mantê-la (40,1%). Metade diz já ter sentido dor durante as relações.

- Isso tem a ver com idade, estresse, mas também com o tipo de relação do casal, com a falta de intimidade - explica Sadeeh.

Brasileiros são os que mais fazem sexo pela internet

A pesquisa mostra também que os brasileiros são os que mais fazem sexo pela internet (53,1% dizem ter tido a experiência), contra 45,8% no restante do continente. A prática pode ser apenas a exploração de mais uma ferramenta da sexualidade, mas pode se tornar um problema, de acordo com os especialistas, se for compulsiva.

- É mais comum entre os homens, que buscam os sites de pornografia e as salas de bate-papo para se masturbar - explica Carla Cecarello. - Se for ocasionalmente, só para apimentar a relação, ok, mas em geral não é assim. Os homens se masturbam excessivamente e não assumem o que está acontecendo em seu relacionamento. Não se dão conta de que a relação não está dando conta de suprir as suas necessidades.

Por isso mesmo, a prática vem cada vez mais se tornando um problema sério também entre casais. Afinal, sexo pela internet é traição?

- É uma questão muito discutida, inclusive juridicamente - conta Carla. - O fato é que quem se utiliza dessas coisas não acha que está traindo, mas o parceiro que descobre sempre se sente traído.

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